Lá nos primeiros dias de vida do blog, hoje exatamente um mês atrás, eu disse que a primeira resenha literária do blog seria falando do livro que eu estava lendo no momento: Christine, do Stephen King. Não foi por não estar gostando do livro que eu demorei. Foi por pura enrolação minha, mesmo, mas agora consegui pegar meu velho ritmo de leitura mais uma vez e finalmente terminei. 

SINOPSE: Arnie Cunnigham era um perdedor. Rosto coberto de espinhas, desajeitado com as garotas, magro demais, passava os dias pelos corredores da escola, tentando fugir da gozação dos colegas. Isso até Christine entrar em sua vida. Amor à primeira vista. A partir desse dia, o mundo ganha novo sentido. Tudo o que Arnie quer é estar junto de Christine. Mas não se espere um novo Romeu e Julieta, tratando-se da mente assombrosa de Stephen King. Christine é um carro. Um Plymouth Fury 1958. Um feitiço sobre rodas que se apodera de Arnie e faz dele alguém diferente. Há algo poderosamente maligno solto pelas estradas de Libertyville. Uma força sobrenatural que vai deixando seu rastro de sangue por onde passa. Embarque nessa viagem assustadora e boa sorte.

RESENHA: Stephen King mais uma vez conseguiu deixar meu coração disparado durante a leitura. Vocês já sabem o quanto gosto desse gênero e do autor. Comprei Christine em 2014 sem muita pretensão. Estava andando em uma livraria de um shopping perto daqui e encontrei-o na promoção, por R$10,00 (descobri vendo informações para a resenha que essa mesma edição custa cerca de R$27,00). Desde então, ele esteve no meu quarto rolando de prateleira em prateleira na estante, até que, depois de ler Escuridão Total Sem Estrelas, decidi dar uma chance pra ele. Ah, e como foi inteligente da minha parte fazer isso!

Christine tem o primeiro e o terceiro capítulos narrados por Dennis Guilder, melhor e único amigo de Arnie Cunningham, um perdedor e saco-de-pancadas dos alunos do colégio. O segundo é narrado em terceira pessoa, contando um pouco sobre Christine e o que acontecia enquanto Dennis esteve "fora de cena", já que havia sofrido um acidente em um jogo de futebol.

Tudo começa quando Arnie encanta-se por um Plymouth Fury 1958 chamado Christine que encontra estacionado no quintal de Roland D. LeBay. Arnie faz de tudo para comprar o carro, e quando enfim consegue, seus problemas começam. Desde o princípio, quando entrou pela primeira vez em Christine, Dennis tem um péssimo pressentimento sobre o carro. Não somente um pressentimento ruim, na verdade: é como se Christine sussurrasse para ele. Como se ela tivesse vida. Resumidamente, ele nunca gostou do carro. Pouco depois de concluir a compra, seu antigo dono morre.

Já que os pais de Arnie o proibiram de manter o carro em casa, o garoto o leva para a garagem de Darnell para que possa enfim restaura-la. Mas o garoto fica completamente obcecado, e além de a tratar como uma mulher e como "quem" tivesse sentimentos, começa a ter lapsos de memória e não lembra de como algumas coisas foram consertadas em Christine. Subitamente, sua pele, antes cheia de acne, começa a melhorar e ele acaba chamando a atenção da novata Leigh Cabot. Deduz-se que, com isso, sua obsessão por Christine fosse diminuir, mas Leigh também não gosta nem um pouco do carro e após diversos acontecimentos estranhos, faz Arnie escolher entre as duas.

Arnie muda completamente em questão de meses. É como se ele tivesse envelhecido. Como se fosse outra pessoa. Ao mesmo tempo, diversas mortes inexplicáveis começam a acontecer na cidade de Libertyville, e embora Arnie tenha um álibi para todos os momentos em que elas aconteceram, ele também tem um motivo e uma ligação entre todas elas.

É aí que começamos a notar o triângulo amoroso se formando na história. Ele acontece não somente entre Arnie, Leigh e Christine, mas entre Dennis, Arnie e Leigh também. Por mais que eu não goste de triângulos, a narração de Dennis me fez perceber que isso acabaria acontecendo em algum momento. Quanto aos personagens, todos eles foram muito bem construídos. Gosto muito da forma como King consegue trazer profundidade de uma forma simples para cada um deles, até mesmo para os coadjuvantes da história, como os pais de Dennis e de Arnie. A linguagem do livro é simples, gostosa de ler, e encontrei poucos erros gramaticais nessa edição. É aquele tipo de livro que quando você termina um capítulo, acaba querendo ler o próximo, porque a escrita é ao mesmo tempo instigante e te faz ter vontade de devorar o livro inteiro de uma vez só. Como falei antes, acabei demorando por enrolar para arrumar tempo para ler. Demorei mais até chegar na página 400 e depois dela, nem percebi as centenas de páginas que vieram e concluí a leitura rapidamente. Para o tamanho do livro, o tamanho da fonte se adequou perfeitamente às páginas e a cor delas também fez com que a leitura ficasse mais agradável de ser feita.

Por mais que a história seja comprida, não senti como se 768 páginas fosse um exagero na hora de contá-la. King é muito detalhista e não deixa pontas soltas no enredo. O final do livro nos traz uma dúvida muito importante sobre a história que faz com que o leitor tenha exatamente a mesma dúvida do protagonista da história. Tenho certeza de que isso foi intencional. Como eu disse, King não deixa pontas soltas.

Essa, sem dúvida, foi uma das minhas leituras favoritas do ano até agora e me deixou morrendo de vontade de ler mais obras do autor. Em diversos momentos fiquei com o coração batendo acelerado no peito e acredito que é isso que um livro do gênero deve provocar. Para todos os amantes desse tipo de literatura, eu recomendo.


QUOTES: Eu tenho manias de riscar o livro. Riscar com lápis ou marca texto, mas principalmente de grifar as frases que mais gostei para poder encontrá-las de novo depois. Também gosto muito da ideia de passar o livro para outra pessoa de forma que ela encontre minhas passagens favoritas e reflita sobre elas. Amo pegar um livro grifado por outra pessoa e poder fazer isso. Enfim, espero que gostem dos que selecionei para postar aqui.

"Eu acho que entendi então que o que realmente assusta as pessoas sobre o processo de crescimento é que paramos de experimentar a máscara da vida e começamos a experimentar outra. Se a infância quer dizer aprender a viver, então ser adulto significa aprender a morrer." - PÁG. 75

"O homem é como a relva, que cresce e depois é aparada; o homem é como a flor, que desabrocha na primavera e esmaece no verão; o homem é amor e ama o que desaparece." - PÁG. 138

"Os poetas se enganam com o amor, de maneira contínua e às vezes deliberadamente. O amor é o velho carniceiro. O amor não é cego. O amor é um canibal com visão extremamente apurada. O amor é como os insetos: sempre faminto." - PÁG. 146

"A sociedade dos colégios é muito conservadora, sabe. Nada de sermões, mas é conservadora sim. As garotas sempre usam as modas mais loucas, os rapazes às vezes deixam o cabelo chegar até o traseiro, todos fumam uma maconhazinha ou cheiram um pouco de coca, mas tudo não passa de um verniz exterior, um muro que você levanta enquanto tenta descobrir o que está realmente acontecendo na sua vida. É como um espelho, usado para refletir a luz do sol de volta nos olhos de pais e professores, para confundi-los antes que eles nos deixem ainda mais confusos do que já estamos." - PÁG. 219

"Os amantes nem sempre vivem felizes para sempre, mesmo quando fizeram o que parecia ser certo, da melhora maneira possível." - PÁG. 750

NOTA: ★★★★★